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Estudo desenvolvido no Laboratório de Tecnologia Ambiental (LabTam), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), resultou em nova formulação de material para aumentar a velocidade de reações do metano, gás incolor, inodoro, inflamável e explosivo em ambiente fechado, utilizado em elevadas temperaturas de reação por um longo tempo e que tem aplicação vasta na produção de insumos petroquímicos, combustíveis sintéticos, fertilizantes e geração energética.

A tecnologia é fruto da dissertação do ex-bolsista de mestrado do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Yuri Kauã Rodrigues de Oliveira Silva,   defendida no Programa de Pós-Graduação em Química da UFRN, e já foi motivo de novo depósito de pedido de patente junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), em julho último, sob o nome “Catalisadores bimetálicos promovidos por trióxido de boro para a produção de gás de síntese via reforma do metano”.

Segundo Yuri Silva, a invenção tem capacidade de influenciar na catálise de reações de reforma do metano. A catálise é um processo em que, ao adicionarmos uma determinada substância, uma reação química ocorre de maneira mais rápida. No caso do metano, tal procedimento é amplamente utilizado de forma industrial para produzir gás de síntese, uma mistura gasosa de hidrogênio (H2) e monóxido de carbono (CO).

O gás de síntese pode ser usado em combustão direta ou pode ser utilizado como matéria-prima para produção de outros compostos, como biometanol ou biocombustíveis. Os dois últimos, derivados do biogás, são extraídos a partir de um processo de purificação. De acordo com Yuri Silva, graças à resistência à formação de carbono inorgânico e à resistência à sinterização, o catalisador é capaz de manter elevada a atividade química, mesmo em altas temperaturas de reação. “Essa situação propicia a redução de custos operacionais.

Especificamente sobre o nosso produto, um aspecto relevante é o baixo custo de produção, com a fase ativa composta por metais não-nobres, mais baratos, e um promotor mais acessível que os amplamente utilizados metais terras-raras, como o cério e o lantânio, de difícil extração”, diz. A conjunção dessas características faz com que o catalisador bimetálico desenvolvido, usando níquel e cobalto, possua estabilidade superior em relação aos catalisadores padrões.

Professora Dulce Maria é referência no estudo com hidrogênio | Foto: Cícero Oliveira/Agecom-UFRN

Também participaram da criação a bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq e professora do Departamento de Química da UFRN, Dulce Maria de Araújo Melo ; os bolsistas de Desenvolvimento Tecnológico Industrial do CNPq, Rodolfo Luiz Bezerra de Araújo Medeiros , Ângelo Anderson Silva de Oliveira e Fernando Velcic Maziviero ; a bolsista de Produtividade em Desenvolvimento Tecnológico e Extensão Inovadora do CNPq, Renata Martins Braga ; a bolsista de Mestrado do CNPq, Joyce Cristine Araújo da Silva ; além dos estudantes Tomaz Rodrigues de Araújo e Joyce Cristine Araújo da Silva.

Os pesquisadores defendem que o patenteamento de invenções nacionais, no âmbito da indústria do petróleo e da indústria petroquímica, fortalece o esforço tecnológico nacional para o desenvolvimento de materiais especiais para catálise, bem como fornece alternativas nacionais à indústria brasileira, diminuindo a necessidade de importação desses insumos. Números recentes posicionam a indústria química brasileira na sexta posição no mundo, com faturamento superior a 100 bilhões de dólares em 2022. Essa indústria também é o segmento que mais arrecada em tributos federais, um valor que representa 13,1% do total da indústria.

O movimento de criar alternativas tecnológicas nacionais ecoa em números da indústria petroquímica. De acordo com Nota Técnica emitida pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) o aumento na participação de importações no setor chegou ao patamar de 45% em dezembro de 2019. Praticamente metade dos produtos químicos utilizados pelo país era importada. O órgão identificou que uma das situações que levou a esse cenário foi a diminuição do apoio governamental ao desenvolvimento industrial no final da década passada.

Com 25 anos de existência, Labtam abrigou os testes durante a pesquisa | Foto: Cícero Oliveira/Agecom-UFRN

Sobre o LabTam

O Laboratório de Tecnologia Ambiental (LabTam) da UFRN tem como característica o uso de conhecimento na área química para o desenvolvimento de novas tecnologias. As pesquisas desenvolvidas no laboratório já geraram resultados que motivaram mais de duas dezenas de pedidos de patente. A coordenadora do LabTam, professora Dulce Maria de Araújo Melo, ressalta que a equipe tem focado na produção e no desenvolvimento de materiais avançados para a produção de hidrogênio, por meio da “modificação” de catalisadores, utilizando algumas ferramentas.

Estas são, por exemplo, machine learning , engenharia de superfície e design of experiments (Doe), técnica empregada para o estabelecimento das proporções ideais entre os componentes níquel, cobalto e trióxido de boro na formulação patenteada. “Sobre essa nossa recente invenção, testamos os materiais em microescala e estamos avaliando a produção dos catalisadores bimetálicos, em quantidade suficiente, para testes em um reator em escala piloto, visando o escalonamento da tecnologia”, afirma ela. A professora defende a importância de proteger e, ao mesmo tempo, dar visibilidade às pesquisas básica e acadêmicas que se transformam em patentes, “em produtos que a sociedade possa usar e se beneficiar”.

A baixa presença feminina na Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática segue sendo um dos grandes desafios à equidade de gênero no mundo. No Brasil, por exemplo, apenas 31% das ocupações em STEM – sigla usada em referência a essas áreas de atuação – são de mulheres, segundo dados da UNESCO. De olho na reversão desse cenário, o Futuras Cientistas, programa de gênero do Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (CETENE), unidade vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), abriu inscrições para a edição nacional da sua próxima Imersão Científica, em 2024. As meninas e mulheres interessadas em participar devem fazer seu cadastro até o dia 4 de setembro deste ano, no https://www.gov.br/cetene/pt-br/areas-de-atuacao/futuras-cientistas.

Podem participar da iniciativa tanto alunas do segundo ano do Ensino Médio quanto professoras do Ensino Médio que pertençam às redes públicas estaduais de educação. Ao todo são oferecidas 470 vagas para todo o Brasil, com 10% das oportunidades destinadas a pessoas com deficiência. Do total, 160 vagas são para alunas matriculadas em escolas regulares e outras 160 vagas para estudantes de tempo integral, semi-integral ou do ensino técnico. As estudantes contempladas recebem um auxílio mensal no valor de R$ 483,00 (quatrocentos e oitenta e três Reais), fornecido pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), além de kit com os materiais necessários para a realização dos experimentos dos planos de trabalho. As docentes ocupam as 150 vagas restantes.

CRONOGRAMA – A Imersão Científica é a primeira etapa do programa Futuras Cientistas e inclui na programação atividades práticas em laboratórios dos centros de pesquisa parceiros, aulas remotas e palestras temáticas. Os grupos de trabalho são monitorados por especialistas e as atividades são realizadas em conformidade com as metas globais estabelecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) em favor da equidade de gênero (ODS 5), bem como a missão institucional do CETENE/MCTI de promoção ao acesso e à popularização da Ciência no Nordeste e no Brasil. Além da Imersão Científica, o Futuras Cientistas é composto de outras três etapas, que serão realizadas ao longo de 2024: banca de estudos para o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), mentoria e estágios supervisionados.

FUTURAS CIENTISTAS – Idealizado pela pesquisadora Giovanna Machado e criado em 2012, o programa Futuras Cientistas passou a ter alcance nacional em 2022, contemplando um total de 675 estudantes em todas as regiões do país. A mudança de patamar ocorreu após uma década de atuação nos estados de Pernambuco, Paraíba e Sergipe. Estima-se que, em média, cerca 70% das participantes da iniciativa são aprovadas no vestibular e, desse total, em torno de 80% escolhem áreas de STEM. Devido a suas contribuições, o Futuras Cientistas foi agraciado em 2022 com o Prêmio LED – Luz na Educação, promovido pela Fundação Roberto Marinho em parceria com a Rede Globo e conta com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do Consulado dos EUA no Recife.

SERVIÇO  – Inscrições para Imersão Científica de 2024. Até o dia 4 de setembro.

CONTATOS –  Assessoria de Comunicação CETENE: Telefone: (81) 3334-7217 Gláucia Bruce (81) 99842-1521- glaucia.bruce@cetene.gov.br /  ascom@cetene.gov.br

Orgulho. Essa é a palavra que melhor resume a participação do estudante José Eleutério, do Curso Técnico Integrado em Eletrotécnica (campus Juazeiro do Norte), no Torneio Internacional de Jovens Físicos (IYPT), realizado de 18 a 25 de julho, em Murree (Paquistão). O evento, considerado a “Copa do Mundo” de física, rendeu uma medalha de prata ao time brasileiro – do qual o estudante cearense orgulhosamente fez parte. Um resultado maiúsculo para um verdadeiro talento do nosso Instituto.

José Eleutério fez bonito no Paquistão

Eleutério prendeu a atenção dos presentes com sua apresentação, com a desenvoltura e a segurança de quem abraçou a ciência como uma filosofia de vida. O grande diferencial do torneio é o formato da disputa, com base em discussões e debates sobre as resoluções de problemas de Física presentes no cotidiano. As sessões são chamadas Physics Fights – disputas que acontecem em rodadas de 50 minutos. No Paquistão, esses duelos da Física ocorreram exclusivamente na Língua Inglesa.

A conquista foi a recompensa de um trabalho dedicado. A caminhada começou ainda em março, quando Eleutério disputou, ao lado das colegas Ludmila de Oliveira e Cíntia Fernandes, a etapa brasileira do torneio, realizada no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). O time foi orientado pelo professor Maurício Soares de Almeida e coorientado pelo professor Rodrigo Queiros de Almeida. Na ocasião, a equipe “Leite Condensado de Bose-Einstein” conquistou o prêmio de melhor escola pública e medalha de prata – garantindo a vaga para a disputa no Paquistão.

A Profa. Joelia Marques de Carvalho, Pró-Reitora de Pesquisa, Pós-graduação e Inovação do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) ressaltou a importância do apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científica e Tecnológica (CNPq), à Olimpíada Cearense de Ciências Humanas por meio do último Edital Chamada MCTI/CNPq/ FNDCT nº 41/2022 – Olimpíadas Científicas. “Essa iniciativa tem auxiliado muito nessa ação. Entendemos que as Olimpíadas do Conhecimento são os primeiros passos de interesse em diversas áreas científicas”, afirmou. O Presidente do CNPq, Ricardo Galvão, esteve com José Eleutério em maio deste ano, quando participou da Jornada da Física, na sede do IFCE, em Fortaleza.

Professor Ricardo Galvão e o aluno José Eleutério

Eleutério falou sobre a experiência fora do país. “É uma oportunidade única, por ser um evento internacional. Minha participação foi possibilitada pelo desenvolvimento científico obtido no IFCE, inclusive nas atividades extracurriculares. Quero agradecer também às minhas colegas Cíntia e Ludimila, pois sem trabalho de equipe essa conquista não teria vindo”, disse o jovem.

O professor Maurício, que viajou ao país asiático acompanhando o aluno, também ressaltou a importância desse momento. O docente lembrou que Eleutério foi o único membro da equipe brasileira oriundo de escola pública, e que é a primeira vez que um aluno com essas origens participa presencialmente da fase internacional da competição.

O cearense foi o único aluno do Norte/Nordeste a participar do time brasileiro

É um feito inédito para a escola pública como um todo e também para o IFCE. Agradeço ao professor Wally Menezes, hoje nosso reitor, e que desde 2017 apoiou a ampliação do nosso Comitê Olímpico Institucional (COI)”, destacou o professor. Vale lembrar que, em 2021, Letícia Vieira, mais um talento do campus Juazeiro, integrou a equipe que representou o Brasil no Online Young Physicists Tournament (OYPT), um evento virtual, paralelo à competição presencial  (IYPT) que ocorreu na Geórgia.

Competição diferenciada

O Torneio Internacional de Jovens Físicos é uma competição científica entre equipes de alunos do ensino médio. Ele simula a pesquisa científica do mundo real e o processo de apresentação e defesa dos resultados obtidos. Os participantes têm quase um ano para trabalhar em 17 problemas de investigação abertos. Boa parte dos problemas envolve fenômenos fáceis de reproduzir que apresentam comportamento inesperado.

O objetivo das soluções não é calcular ou chegar à “resposta correta”. O torneio é bastante orientado para conclusões, pois os participantes devem projetar e realizar experimentos e tirar conclusões argumentadas a partir dos resultados dos experimentos. A competição em si não é uma disputa “de papel e caneta”, mas uma representação de uma discussão científica (ou defesa de uma tese) onde os participantes assumem os papéis de Relator, Oponente e Revisor e são avaliados por um Júri internacional.

A beleza do torneio é que as equipes podem seguir caminhos bastante diferentes para resolver o mesmo problema. Desde que permaneçam dentro da definição ampla da questão, todas as rotas são legítimas e as equipes serão julgadas de acordo com a profundidade alcançada por suas investigações.

Por: Dowglas Lima – Comunicação Social – Reitoria

 

Embora o permeômetro seja um aparelho já bastante empregado, os modelos convencionais requerem trabalho bastante demorado, realizado por técnico especializado, para fornecer dados confiáveis da condutividade hidráulica do solo. A tecnologia desenvolvida pela CBPF e pela Embrapa faz a coleta de dados digitalmente, usando um computador de baixo custo, registrando-os em um cartão de memória. As medidas têm precisão de leitura de milímetros e registro de tempo de décimos de segundo, aumentando a precisão dos dados coletados.

Este avanço despertou o interesse da empresa Falker que deverá produzir protótipo dentro dos próximos oito meses e posteriormente disponibilizar versões comerciais do equipamento.

Saiba mais: https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/57514974/equipamento-inovador-faz-a-medicao-digital-da-agua-infiltrada-no-solo

Foto destaque: Embrapa Solos 

Texto:  Portal CNPQ notícias.

Já estão na Noruega os cinco pesquisadores brasileiros que compõem a expedição inédita que levará pesquisa científica ao círculo polar Ártico do nosso planeta. É a Primeira Expedição Cientifica do Brasil ao Ártico – Operação Ártico I, que acontecerá até o dia 21 de julho e tem como missão inaugurar a participação científica oficial do Brasil no Ártico.

Coordenada pelos bolsista do CNPq, Prof. Luiz Henrique Rosa – Departamento de Microbiologia da UFMG e pelo Prof. Paulo E.A.S. Câmara – Departamento de Botânica da UnB, a equipe é formada, ainda, pelos pela Profa. Micheline Carvalho-Silva – Departamento de Botânica da UnB, Profa. Vívian Nicolau Gonçalves – Departamento de Microbiologia da UFMG, bolsista do CNPq e o  Prof. Marcelo Ramada – Pontifícia Universidade Católica de Brasília.

A missão acontece no âmbito das atividades do Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR) e é financiada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A equipe conta, ainda, com apoio institucional do Ministério das Relações Exteriores, da Secretaria Interministerial dos Recursos do Mar (SECIRM) da Marinha do Brasil e das universidades às quais os pesquisadores são vinculados.

O trabalho dos pesquisadores envolverá a coleta de diferentes amostras (solos, sedimentos marinhos e de lagos, água de lagos, rochas e plantas) para caracterização de micro-organismos e plantas que ocorrem no Ártico e comparar os resultados obtidos com dados da Antártica (os quais já temos algum conhecimento).

“O Ártico é uma região estratégica para estudos de questões climáticas, econômicas e ambientais, e o Brasil pode ter um protagonismo científico na área, pois possui uma enorme expertise polar adquirida ao longo de 40 anos de presença na Antártica através do PROANTAR, e acreditamos poderá somar sua experiência e contribuir para o melhor entendimento e conservação da região Ártica”, ressalta o Prof. Luiz Rosa.

A expedição

Segundo o Prof. Paulo Câmara, o conhecimento da biodiversidade que existe no Ártico pode fornecer informações valiosas sobre o impacto das mudanças climáticas da região, visto que o derretimento do gelo no Ártico parece ser irreversível. “Esse impacto nas regiões árticas provavelmente afetarão as regiões próximas com potencial de afetar até o litoral norte do Brasil, pois os polos (Ártico e Antártica) representam os “refrigeradores” do planeta via oceanos”, ressaltou. Além disso, com esse iminente efeito das mudanças climáticas na região, organismos restritos ao círculo ártico podem liberados para o resto do mundo.

O objetivo da expedição é conhecer essa biodiversidade e compreender suas seus papeis ecológicos e possíveis impactos para o homem. Cerca de 7% do território brasileiro está no hemisfério norte e, portanto, mais próximo do Ártico do que da Antártica, sofrendo dele mais influências. O Brasil é ainda o único país entre as 10 maiores economias do mundo a não ter nenhuma participação nos temas relativos ao Ártico

Essa primeira missão oficial do Brasil ao Ártico também contribuirá para que o país assine o tratado de Svalbard para continuar pesquisas em diferentes áreas do conhecimento na região e, futuramente, também possa pleitear assento como membro observador do Conselho do Ártico assine o Tratado do Ártico, o que poderá contribuir para que o Brasil apresente propostas geopolíticas pacíficas de preservação e pesquisa para região, como é feito para Antártica.

Também durante a expedição científica serão obtidas imagens para compor o documentário Paralelo 60º financiado pela ANCINE, o qual irá apresentar o papel e importância das pesquisas do Brasil nos polos do planeta.

A Primeira Expedição Oficial do Brasil ao Ártico homenageia a Profa. Therezinha de Castro – historiadora, geógrafa, pesquisadora, escritora e professora brasileira que foi também do quadro da Escola Superior de Guerra e que propôs o trabalho: “Antártica: Teoria da Defrontação”, segundo a qual o Brasil deveria reivindicar o seu espaço no continente, foi a grande impulsionadora da presença do Brasil na Antártica.

 

 

O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) lançaram chamada pública no valor total de R$ 60 milhões no âmbito do Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio). Os pesquisadores têm até 25 de agosto para submeter os projetos.

O Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio) é um projeto nacional estratégico que visa ampliar o conhecimento sobre a biodiversidade brasileira e subsidiar a implementação de políticas públicas voltadas para a conservação e uso sustentável dos recursos naturais do Brasil.

A iniciativa busca suprir lacunas de conhecimento, em especial em regiões de difícil acesso e escassez histórica de conhecimentos científicos. Além da obtenção de dados científicos sobre a biodiversidade, incluindo aspectos como diversidade taxonômica, genética populacional e aspectos evolutivos, o PPBio também busca compreender padrões de distribuição de plantas e animais e do processo ecológico que resultam nos padrões atuais.

Para participar da chamada, o responsável deve ter currículo cadastrado na Plataforma Lattes, título de Doutor e ser coordenador do projeto.  Além disso, precisa ter vínculo com a instituição de execução do projeto ou, se aposentado, comprovar que mantém atividades acadêmicas e científicas. A proposta apresentada deverá ainda tratar de uma das nove linhas de pesquisas elencadas no edital e abordar ao menos três temas citados na chamada.

Outro requisito é que as propostas submetidas nas linhas de pesquisa contemplem projetos de pesquisa científica, tecnológica e de inovação estruturados em Redes Integradas de Pesquisa.

As inscrições devem ser feitas exclusivamente online, pela Plataforma Integrada Carlos Chagas, com preenchimento do Formulário, até às 23h59 de 25 de agosto. Informações adicionais sobre esta iniciativa podem ser obtidos pelo e-mail atendimento@cnpq.br ou pelo telefone (61) 3211-4000. Veja aqui o edital clicando aqui:

O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNPq e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação lançam hoje uma Chamada do Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio) destinando R$ 60 milhões para ampliar o conhecimento sobre os ecossistemas brasileiros e promover a identificação, caracterização, valorização e uso sustentável da biodiversidade. Os recursos são do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – FNDCT e apoiarão projetos com três anos de duração.

A Chamada CNPq/MCTI/FNDCT Nº 07/2023 – Desenvolvimento de Ações Estratégicas para Políticas em Biodiversidade no âmbito do Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio) – visa apoiar projetos de Redes Integradas de Pesquisa em biodiversidade nos biomas espalhados por todo o território nacional: Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica, Semiárido, Pantanal, Campos Sulinos, Rede Costeira Marinha, e Rede de Restingas e Manguezais. Algumas desses redes são consolidadas e outras a Chamada pretende induzir a formação. Além disso, haverá uma linha específica para projetos específica voltados à  comunicação pública da ciência produzida pelos projetos do Programa PPBio ao longo da duração dos projetos.

O Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio), criado em 2004, é um programa nacional estratégico que abrange todo país e destina-se a preencher lacunas de conhecimento sobre a biodiversidade, especialmente em regiões de difícil acesso e escassez histórica de conhecimentos científicos.

Com esta ação o CNPq e o MCTI esperam ampliar o registro de informações nos inventários da fauna e da flora, avaliar e aumentar a oferta de serviços ecossistêmicos, mapear a situação da biodiversidade nos diferentes biomas, melhorar o entendimento sobre os reservatórios de zoonoses e os vetores de transmissão de doenças e aumentar o valor cultural da biodiversidade e a sensibilidade da população sobre o tema.

A submissão de propostas está aberta até 25 de agosto.

Para maiores informações acesse a Chamada na íntegra: http://memoria2.cnpq.br/web/guest/chamadas-publicas?p_p_id=resultadosportlet_WAR_resultadoscnpqportlet_INSTANCE_0ZaM&filtro=abertas&detalha=chamadaDivulgada&idDivulgacao=11465

Imagem destaque: Portal CNPQ Notícias.

 

 

A ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, e o presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Ricardo Galvão, participaram, nesta quarta (10), de entrega da 35ª edição do Prêmio Almirante Álvaro Alberto, um dos maiores reconhecimentos a pesquisadores e pesquisadoras do país, ao epidemiologista Cesar Victora. O evento também foi palco da concessão de títulos a pesquisadores eméritos e da diplomação dos novos membros titulares da Academia Brasileira de Ciências (ABC).

Na ocasião, a ministra do MCTI, Luciana Santos, assinou portaria que estabelece as diretrizes para a elaboração da Nova Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação.

 

“Esta é uma solenidade de celebração e reconhecimento da ciência como pilar do desenvolvimento nacional”, afirmou a ministra Luciana Santos. “Essa premiação é a vitória do conhecimento, do saber e da ciência contra o obscurantismo e o negacionismo que produziram efeitos devastadores em nosso País”, completou.

Reconhecido como um dos líderes mundiais em saúde e nutrição materno-infantil e um dos mais proeminentes pensadores nos campos de desigualdades sociais e avaliação de programas de saúde, o Professor Emérito de Epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) Cesar Victora foi o primeiro agraciado da noite, vencedor do Prêmio Almirante Álvaro Alberto. “Sou da área de saúde coletiva e é a primeira vez que a saúde coletiva é homenageada, é pujante, engajada, é uma das disciplinas científicas das que mais cresceu. É um enorme orgulho estar aqui como epidemiologista e da área de saúde”, disse Victora.

O Prêmio Almirante Álvaro Alberto é um dos maiores reconhecimentos a pesquisadores e pesquisadoras do país.  A premiação é concedida, anualmente, ao pesquisador que tenha se destacado pela realização de obra científica ou tecnológica de reconhecido valor para o progresso de sua área.

A iniciativa é uma parceria entre Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Ministério da Ciência Tecnologia e Inovações (MCTI) e Marinha do Brasil. A escolha do vencedor é feita pelo Conselho Deliberativo do CNPq.

O presidente do CNPq, Ricardo Galvão, salientou a trajetória profissional do epidemiologista. “Entregar ao Cesar Victora é uma escolha acertada do Conselho deliberativo. Não só pela excelência de sua pesquisa, mas pelo que representa a temática de seus estudos, voltada para saúde da criança”, disse. “O professor Victora tem dado contribuições seminais para o desenvolvimento do país”, acrescentou.

Títulos e Menções de Agradecimento

Ao longo da noite, também foram entregues seis Títulos de Pesquisador Emérito e quatro Menções de Agradecimento. “É com sentimento de resistência, reconstrução que homenageamos alguns desses grandes nomes com menções e títulos”, afirmou Galvão. “São homenagens que o CNPq faz em reconhecimento à atuação dessas pessoas e instituições para que tenhamos excelência da nossa pesquisa e aprimoremos nossa capacidade para contribuir para desenvolvimento sustentável e socialmente justo”

Conheça os premiados.

Diplomação novos membros titulares da ABC

Outro destaque da noite foi a diplomação dos novos membros da Academia Brasileira de Ciências (ABC). Em seu discurso, a presidente da ABC, Helena Nader falou sobre a importância da ciência e da educação para um Brasil mais próspero.

“Tivemos avanços importantes como o reajuste das bolsas do CNPq e da Capes, a recomposição do FNDCT e liberação dos recursos”, lembrou. “Mas precisamos de mais. A reindustrialização do país só ocorrerá com muita Ciência. Para tomarmos o rumo de um crescimento inteligente e sustentável, a proposta é uma política de inovação capitaneada pelo Estado, em parceria com setor privado, em que Estado assume papel de tomador de riscos aberto a experimentações”, concluiu.

Com informações da ASCOM/MCTI

Fotos: Luara Baggi (ASCOM/MCTI)

Pesquisa sobre a modulação do sistema endocanabinóide, coordenada pela bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq e professora de Neurobiologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), Lucianne Fragel Madeira,  poderá contribuir para o avanço no tratamento da retinose pigmentar, forma mais comum de cegueira hereditária na população, que afeta 1 em cada 4 mil pessoas, e que, em estágio avançado, pode levar à perda total da visão. O objetivo do estudo é o de avaliar a possibilidade de uso do sistema endocanabinóide para impedir a perda da função visual ou, ao menos, amenizar a progressão da doença. O endocanabinóide é um complexo sistema de sinalização celular presente em humanos e em animais, que envolve os ligantes canabinóides produzidos pelo próprio corpo, seus receptores e suas enzimas de síntese e de degradação. Descoberto no início da década de 1990, esse sistema produz moléculas que têm semelhança estrutural com as encontradas na planta Cannabis sativa, cujos efeitos medicinais não relacionados às suas propriedades psicoativas já são conhecidos.

A pesquisa se encontra na fase pré-clínica, mas seus resultados já podem ser observados e são considerados promissores. “Nosso dado mais marcante é o efeito protetor robusto que observamos após aumentar a disponibilidade de anandamida na retina, um canabinóide produzido naturalmente pelo organismo. Além disso, nosso grupo já observou que vários componentes desse sistema estão alterados nos animais que possuem essa degeneração da retina, mostrando que os canabinóides estão agindo ativamente no curso da retinose”, afirma a professora Lucianne Madeira. A pesquisa possui financiamento do CNPq e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro (FAPERJ).

Para avaliar se é possível impedir a perda da função visual ou, ao menos, amenizar a progressão da retinose pigmentar por meio do sistema endocanabinóide, os pesquisadores utilizam o modelo animal de retinose pigmentar, trabalhando com camundongos RD10. Esses animais têm modelo de retinose pigmentar muito semelhante à dos humanos, com lenta degeneração de células fotorreceptoras. Os experimentos realizados pelos pesquisadores conseguiram retardar nos camundongos a morte dos fotorreceptores dos olhos em cerca de 40%. “Como é uma doença que não tem cura, por conta de ser uma doença genética, de caráter hereditário, é muito difícil de tratar porque cada um pode ter um gene defeituoso. Então, por causa disso, os tratamentos que visam retardar a doença são promissores no sentido que a gente pode trazer uma melhora na qualidade de vida do paciente”, comenta a professora Lucianne Madeira.

Uma pessoa afetada pela doença demonstra os primeiros sinais da enfermidade na adolescência. O problema se inicia com a morte do fotorreceptor. Há uma mutação em um determinado gene que passa para outras células da retina que, a princípio, não deveriam ser afetadas. A doença se manifesta com uma dificuldade de enxergar no escuro. Com o avanço da idade, os neurônios dos olhos vão morrendo e a perda se estabelece de forma mais intensa, com o desaparecimento da visão periférica. Na idade adulta, a doença alcança estágios mais avançados. A pessoa afetada pela retinose pigmentar pode, inclusive, perder totalmente a visão, o que gera um grande impacto em sua qualidade de vida.

Segundo a professora Lucianne Madeira, os pesquisadores verificaram que existem várias alterações no sistema endocanabinóide no decorrer do desenvolvimento da doença. “Nós estamos modulando esses componentes, alterando principalmente os níveis de endocanabinóides ou de canabinóides endógenos, aumentando os níveis deles, e, com isso, a gente está conseguindo atrasar a morte dos neurônios da retina que tem retinose pigmentar”, explica ela. Os resultados apontam para um atraso na morte dos neurônios dos olhos, após o tratamento diário com um fármaco que bloqueia a enzima de degradação. No momento, o grupo estuda os mecanismos por trás do efeito protetor do tratamento, para entender o potencial terapêutico dos endocanabinóides e melhorar sua eficácia. Para tanto, os pesquisadores trabalham em colaboração com dois grupos da Universidade do Rio de Janeiro (UFRJ), em duas linhas distintas. Em uma delas, os pesquisadores desenvolvem um colírio a base de canabidiol, que será testado ainda nos animais. A segunda linha de pesquisa diz respeito à terapia gênica.

“O que a gente está propondo com a terapia gênica é a inserção de um gene ou dois genes combinados dos receptores para endocanabinóide. A gente quer ver se o efeito neuroprotetor é conseguido nesses indivíduos. Como a gente viu que tem alteração nos receptores CB1 e CB2 na retinose pigmentar, a gente quer ver se modulando mais permanentemente, através da inserção de gene, com a terapia gênica, a gente consegue prolongar esse efeito neuprotetor”, explica a Lucianne Madeira. Os receptores CB1 são encontrados principalmente no sistema nervoso central e controlam níveis e atividade da maioria dos outros neurotransmissores, regulando a atividade de qualquer sistema que precise ser ajustado, como fome ou temperatura. Os receptores CB2, por sua vez, agem no controle do nosso funcionamento imunológico, modulação de dor, contração e inflamação, e são encontrados no sistema nervoso periférico e nas células imunes.

Apesar de ainda existir preconceito acerca do uso de canabinóides, nas últimas décadas  o potencial medicinal dessas substâncias vem sendo redescoberto. Ele já é conhecido desde 2700 A.C, quando surgiram os primeiros relatos, na China. “A ciência já vem dando várias respostas do uso de canabinóides”, diz a professora Lucianne Madeira. “A gente ficou durante muitos anos com esse preconceito, por conta de os fitocanabinóides  estarem associados aos efeitos psicoativos da maconha que na verdade, é devido a um canabinóide que é o THC, mas não a todos os outros fitocanabinóides que a maconha tem, como canabidiol, canabigerol etc”, explica ela. Estudos científicos vêm comprovando que canabinóides que não possuem efeitos alucinógenos desempenham o papel de  neuroprotetores do sistema nervoso, em pacientes com epilepsia, esquizofrenia, depressão e autismo. “O que a ciência vem mostrando é que nós podemos, com o conhecimento que vem sendo obtido ao longo das experimentações cientificas, contornar esses problemas saber como retirar essa parte ruim dos fitoterápicos e usá-los para o bem da sociedade”, ressalta Lucianne Madeira. Segundo ela, quando os cientistas passaram a conhecer o sistema endocanabinóide e  a gerar novos conhecimentos sobre ele, aumentou a segurança no uso clínico dos canabinóides, sejam eles sintéticos, fitoterápicos ou endógenos. “A gente espera que nossa pesquisa seja muito promissora para uma doença genética causada por mais de cem genes diferentes”, sublinha ela, lembrando que apenas com uma pesquisa não se consegue alcançar a cura definitiva. “Mesmo que sejam tratamentos que possam retardar o avanço da doença, isso já é promissor, suficiente e deve ser estimulado”, completa ela.

Trajetória

A professora Lucianne Madeira comenta como começou a se interessar pela ciência e um pouco de sua carreira, o que também é um estímulo para as jovens  que querem seguir esse caminho. Ela diz que tem curiosidade pela ciência desde criança, mas  o estímulo maior para ela trilhar o caminho acadêmico partiu de um curso de férias realizado na UFRJ, quando ela estava no Ensino Médio. Foi quando ela teve o primeiro contato com laboratórios de pesquisa. Logo em seguida, ela participou de projeto  como bolsista PIBIC Júnior e ingressou na graduação de Biomedicina na UFRJ, quando começou seus estudos trabalhando com desenvolvimento normal da retina. Acabou cursando doutorado direto na mesma instituição e, em 2009, passou  em concurso para professora da UFF. Atualmente, ela é pesquisadora chefe do Laboratório de Desenvolvimento e Regeneração Neural da UFF. Ela também atua na divulgação e na popularização da ciência, bem como na formação continuada e sensibilização para a inclusão educacional. A professora é fundadora e diretora do programa de extensão Ciências Sob Tendas, da UFF. Ela também é membro do Comitê Científico do INCT de Comunicação Pública em Ciência e Tecnologia.

Um estudo brasileiro sobre a prevalência e o impacto das coinfeccões de malária, e parasitoses intestinais em quatro aldeias Yanomami acaba de sair publicado no periódico científico Journal of Infection and Public Health. O poliparasitismo, ou seja, a infecção por mais de um parasita, foi identificada em 83,7% dos indígenas. Os resultados mostraram que a prevalência de protozoários intestinais foi de 100%, sendo que 40% estavam polinfectados com helmintos e 15.4% com malaria e/ou helmintos. Entamoeba histolytica estava presente em 71,5% dos indígenas e Giardia intestinalis em 6,4% além de outras espécies não patogênicas como E. coli (100%). Em relação às espécies de helmintos, os Ancilostomídeos foram os mais prevalentes (20,3%), seguidos de Ascaris lumbricoides (19,7%), Trichuris trichiura (3,7%), Hymenolepis nana (2,0%), Enterobius vermicularis (1,4%) e Strongyloides stercoralis (0,7%)

Coordenado pela cientista Joseli de Oliveira Ferreira,  do Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz e bolsista de produtividade do CNPq, o estudo foi realizado no Polo Base Marari, uma comunidade indígena Yanomami, localizada ao norte da Amazônia brasileira, na fronteira com a Venezuela. Foram incluídos no estudo 450 indígenas, distribuídos em quatro aldeias: Alapusi, Castanha/Ahima, Gasolina e Taibrapa. A coleta das amostras foi realizada em viagens às aldeias e duraram cerca de 30 dias. Nas amostras de fezes, foi detectada uma prevalência de 34% de infecções por protozoários e helmintos, ao mesmo tempo, sendo os parasitas mais comuns as amebas do tipo Entamoeba coli e Entamoeba histolytica e o verme Ascaris lumbricoides e ancilostomídeos.

Os pesquisadores também observaram uma prevalência de malária de 14,2%. A espécie mais prevalente foi Plasmodium vivax com 45,9%, seguida de P. falciparum (23%), P. malariae (3,3%) e infecções mistas em um mesmo indivíduo (26,2%): P. vivax + P. falciparum, P. vivax + P. malariae e P. falciparum.

Joseli relata que 10% dos pacientes com malária tinham também infecções por protozoários intestinais, sendo comum a identificação de indígenas com Plasmodium vivax, Escherichia coli e Entamoeba histolytica; e infectados com malária, protozoários e helmintos, ao mesmo tempo, sendo a associação predominante de Plasmodium vivax, Escherichia coli, Entamoeba histolytica e Ascaris lumbricoides.

Outro dado relevante foi a baixa parasitemia de malária nos indígenas adultos que, muitas vezes, não foi identificada no método tradicional de diagnóstico – um exame microscópico de gota espessa corada pelo Giemsa. Usando PCR, que é mais sensível que a gota espessa, aproximadamente 86% dos infecções foram consideradas submicroscópicas, sendo a maioria em adultos. Esses dados comprovam que os métodos moleculares são mais apropriados para a identificação de infecções maláricas nas aldeias Ianomamis estudadas e são importantes para o delineamento e implementação de medidas de vigilância e controle que visam a eliminação da malária nas populações ameríndias da Amazônia. Joseli destaca que as crianças e mulheres grávidas são as mais vulneráveis pela doença.

O estudo de coleta de amostras de sangue e fezes reuniu além dos pesquisadores da Fiocruz, do Centro de Medicina Tropical de Rondônia, do Distrito Sanitário Indígena Yanomami e ocorreu em 2015. Os dados têm sido processados, desde então, e contribuirão para ações emergenciais junto às comunidades indígenas. A demora para publicação dos resultados se deu por diversos fatores, inclusive falta de recursos financeiros.

– Em breve, teremos outro artigo sobre a incidência de hepatites virais na comunidade. Não foi fácil montar a logística no transporte em aeronaves pequenas para levar toda a equipe e o material necessário para as coletas e ações sanitárias. Várias viagens tiveram que ser feitas para conversas com as lideranças indígenas de cada aldeia. E ainda tivemos que contar com ajuda de um intérprete para explicar a importância do estudo. Enfrentamos também desafios com as distâncias entre as aldeias, que podem consumir mais de cinco horas de caminhadas de onde o avião pousa. Outro entrave foi a falta de apoio e de recursos financeiros suficientes para custear os gastos do trabalho de campo e do estudo. Só com a aquisição de kits de diagnóstico das hepatites foram consumidos mais de R$ 40 mil reais. A pesquisa também demorou a ser aprovada pelo Comitê de Ética. Mas ressalto que todos os indivíduos com diagnóstico positivo foram tratados logo após o trabalho de campo. Além de levarmos medicamentos para os agravos diagnosticados, treinamos os técnicos do Distrito Sanitário para auxiliar no estudo.

A vida indígena – Os nativos ainda mantêm modos tradicionais de subsistência e são caçadores-coletores seminômades e agricultores rurais. As casas dessas aldeias, batizadas de shabonos, são construções circulares de madeira e que acomodam até 300 pessoas. As aldeias carecem de banheiros e a água do rio é usada para tomar banho, beber e cozinhar. De acordo com relatos de Joseli, já havia invasões de garimpeiros na região e contaminação das águas e do solo, na época da pesquisa, e ela acredita que, de lá para cá, a situação da saúde dos Yanomami só tenha piorado.

– A alta prevalência de poliparasitismo intestinal com coinfecções por Plasmodium devem também contribuir para o surgimento de quadros de anemia e ou desnutrição e evidencia a necessidade de combinar estratégias que possam auxiliar no controle tanto da malária quanto das parasitoses intestinais e gerar uma abordagem de saúde alinhada com as perspectivas indígenas. Fizemos relatórios sobre os achados desta pesquisa e estamos envolvidos nas atuais ações emergenciais, afirma.

Como perspectivas, a pesquisadora espera testar a eficácia dos atuais medicamentos e o esquema de tratamento contra a malária. Além disso, ela destaca também a importância de avaliar a cobertura vacinal da população contra as hepatites diante da dificuldade da chegada de imunizantes às aldeias e da falta de energia elétrica para mantê-los a uma temperatura adequada.

A precária atenção aos povos indígenas pelos órgãos oficiais parece ser mais lenta que a ação dos invasores de suas terras, levando-os, assim, a viver em áreas menores, o que aumenta a circulação de indivíduos no mesmo espaço de forma mais intensa e constante, propiciando o contágio e contribuindo para a manutenção das parasitoses intestinais na população.

É importante ressaltar que nas comunidades indígenas, nem todos os conceitos que os não-indígenas conhecem podem ser aplicados. Um programa eficaz de controle contra as parasitoses intestinais deve levar em conta os hábitos indígenas. Para isso, deve-se considerar formas alternativas de saneamento ambiental que vá de acordo com as percepções dos Yanomami de doença, moradia, higiene pessoal e meio ambiente.

A pesquisa foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e pelo Programa de Ações Estratégicas para o Desenvolvimento e Fortalecimento dos Laboratórios credenciados no Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz.

Por: Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz

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