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As sete pragas da universidade brasileira

por Equipe ACQF
7 pragas das universidades brasileiras

Sete pragas de natureza institucional da universidade brasileira que devem ser tratadas com presteza, antes que seja tarde demais.

O primeiro grande mal da universidade brasileira é o regime de tempo parcial. De acordo com este regime o professor tem a obrigação de se dedicar 12 horas por semana à universidade. Como consequência, duas situações diferentes ocorrem frequentemente: a) aquela do professor-caixeiro-viajante que, desnutrido física e intelectualmente, ganha seu pão itinerantemente, em diferentes cidades às vezes, sem tempo de se atualizar e de se dedicar, minimamente que seja, à pesquisa e à reflexão; verdadeiros Zumbis, vomitando conhecimentos obsoletos e, frequentemente, errôneos ou viciados; b) a segunda situação, também bastante frequente, é a do professor diletante: advogados, médicos e engenheiros, motivados quase sempre por uma simplória vaidade, nas horas vagas, são ‘professores universitários’.

A segunda grande praga da universidade brasileira é a vitalicidade de cargos e o resultante imobilismo. Devemos hoje reconhecer, e mesmo os mais fanáticos adversários da cátedra vitalícia, que este era o menor dos males. Maior mal é o aprendiz vitalício e a consequente incompetência vitalícia. Hoje, por força de lei, ingressa o jovem recém-formado no serviço público por concurso, adquirindo, na prática, direitos vitalícios.

A terceira desgraça da universidade brasileira advém de seu isolacionismo. Isolacionismo este gerado pela mediocridade e consequente insegurança. Inicia-se com a própria legislação do funcionalismo público que impede o acesso a estrangeiros.

O quarto grande infortúnio da universidade brasileira é a burocracia. A burocracia é como certas doenças intestinais que, uma vez instaladas, são praticamente impossíveis de serem rechaçadas. Sobrevivem incipientemente, despercebidamente, por longos períodos de tempo, à espreita de um eventual enfraquecimento do organismo.

A quinta desdita que assola a universidade brasileira é uma tendência à compartimentalização. Quando se eliminou a cátedra vitalícia, pensou-se que se resolveria este problema. Entretanto, inesperadamente, muitos departamentos se transformaram em cátedras intumescidas.

A sexta desventura de que sofre de maneira crescente a universidade brasileira é a falta de autonomia. Não foram necessárias as ‘regrinhas’ do Ministério da Educação para ‘fazer’ as universidades de Harvard e Oxford. É realmente absurdo pretender-se que os mesmo preceitos sejam aplicáveis às universidades ideais para o estado do Acre e para São Paulo.

A sétima e última praga da universidade brasileira é o gigantismo. É um mal recente no Brasil e compartilhado com outros países. A Universidade de Buenos Aires tem 230 mil estudantes, mas não é uma universidade; é um conjunto de escolas superiores, algumas das quais atingindo internamente certas características universitárias.

Estas são as sete pragas de natureza institucional da universidade brasileira. Como doenças cada uma reforça-se nas outras. Dificilmente erradicar-se-á uma sem se atuar sobre as demais. E como doenças devem ser tratadas com presteza, antes que seja tarde demais.

Nota

[1] Rogério Cézar de Cerqueira Leite (nascido em 1931). Extraído e adaptado do blog Poesia contra a guerra, o excerto acima integra o livro As sete pragas da universidade brasileira (Duas Cidades, 1978).

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