A jovem saiu sozinha de Belo Horizonte e enfrentou dificuldades e saudade de casa. Hoje, ela é a primeira da família a entrar em uma universidade federal
Com o sonho de estudar em uma Universidade Federal, a jovem Mirlan Cristian Mendes de Oliveira, de 25 anos, saiu no seu estado natal, Minas Gerais, e veio para o Espírito Santo.
Para alcançar esse objetivo, a estudante enfrentou a saudade da família e as dificuldades financeiras de fazer um curso integral. Hoje, prestes a formar-se, ela garante que todo esforço valeu a pena.
Nascida em Belo Horizonte, Mirlan conta que foi a primeira da família a entrar em uma faculdade federal. Filha de uma recepcionista e um micro empresário, a estudante recebeu dos pais o apoio para estudar e ter um futuro melhor.
“Sempre quis estudar em uma federal. Até tentei vestibular em Minas, mas surgiu oportunidade de vir para o Espírito Santo, onde mora a família do meu pai. Achei que poderia ser algo novo e decidi pela mudança. Meus pais sempre deram força para que eu estudasse, principalmente minha mãe. Ela queria que eu tivesse uma condição melhor e sempre dizia que só a partir dos estudos é possível transformar nossa realidade social”, lembra.
E foi em dezembro 2011, aos 18 anos, que a jovem veio para o estado sem sequer ter prestado vestibular. De início, ela foi morar na casa de familiares no bairro Castelândia, na Serra. De início, Mirlan cursou Psicologia por um ano meio em uma universidade particular e a rotina de ir e voltar para Vitória era cansativa.
A mãe da jovem ficou preocupada e chegou a chamar a filha para voltar à Belo Horizonte. Mas ao ver a menina trilhando seu próprio caminho, aceitou melhor a ideia da distância.
“Fiquei nessa rotina Serra-Vitória por anos. Era extremamente cansativo. Eu precisava acordar mais cedo para chegar terminal e pegar o ônibus em tempo. Nas horas de pico ainda tinha o fator trânsito. Após um ano e meio na faculdade particular eu não me adaptei à instituição. Além disso, passei a me interessar por outro curso: Terapia Ocupacional”, conta.
Foi quando a jovem prestou vestibular para a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e passou. Para ela, esse foi um dos dias mais emocionantes de toda a vida.
Entrar em uma universidade pública não significa que o estudante vai conseguir manter-se
“Me identifico com a Terapia Ocupacional porque trabalha com o cotidiano, com a vida das pessoas e a vontade de viver. Me move saber que posso dar uma qualidade de vida a alguém, que vai muito além de alguma forma qualidade de vida além de conseguir andar ou comer sozinho, mas que engloba toda a dignidade e qualidade de vida que aquele paciente pode ter”, explica.
Mas entrar em uma universidade pública não significa que o estudante vai conseguir manter-se. Estudar em um curso integral, como era o caso dela, significa que o aluno terá que deixar de trabalhar.
“Na federal há várias qualidades e também limitações. A falta de tempo para trabalhar é um dos problemas, mas eu conseguia fazer trabalhos informais algumas vezes. O que me ajudava muito também era a bolsa auxílio para material e passagem que a Ufes oferecia para criar possibilidades do estudante continuar na universidade. Após três anos indo da Serra pra Vitória todo dia, decidi morar em uma república em Consolação com mais duas meninas”, conta.
Durante o curso, a estudante fez quatro estágios obrigatórios. Depois, como ela mesma define, teve o “privilégio” de fazer um estágio remunerado na Ufes. Agora, prestes a formar-se, ela afirma que quer trilhar todos os caminhos possíveis na profissão.
“Tenho preferência pera área física, é o que me enche os olhos, me identifico. Mas a terapia ocupacional trabalha com o vivo. Então, onde tiver vida precisando eu vou.
Meu sonho é ter independência profissional. E olhando para trás, vejo que valeu muito a pena. Não me arrependo de ter vindo morar aqui, pelo contrário, sou muito grata”, comemora.