Por Dra. Renata Ávila
O potencial de uma substância produzida a partir da clara de ovo na atenuação de efeitos da intoxicação por mercúrio em animais de laboratório é o objeto da pesquisa de doutorado de Ingridy Grafites, na UFES .
Formada em Enfermagem pela UFES, a pesquisadora colatinense, egressa de escola pública, trabalhava meio período como menor aprendiz e em 2014, foi aprovada no vestibular de uma faculdade particular em Colatina, um mês após o início do curso seu nome estava entre os aprovados no vestibular da UFES, onde ela identificou que haveria mais oportunidades de crescimento profissional.
A pesquisadora sempre contou com o apoio dos pais
na decisão de deixar Colatina e se mudar para Vitória e auxiliaram financeiramente como podiam, a mãe trabalhando como costureira e o pai em uma fábrica de granitos, mas o que mais ajudou na permanência durante o curso foram os auxílios disponibilizados pela Universidade.
Desde o início do curso, buscou aproveitar as oportunidades que a Universidade oferecia e participar de atividades extracurriculares, como as monitorias. Foi nesta busca que participou de uma seleção para um projeto de Iniciação Científica no programa em pós-graduação em Ciências Fisiológicas, onde descobriu que a pesquisa científica era o que gostava de fazer.
Neste período, se iniciou sua dedicação ao estudo dos efeitos do mercúrio sobre o sistema cardiovascular e em 2018, estava iniciando o mestrado e a pesquisa sobre efeitos crônicos do cloreto de mercúrio sobre a pressão arterial e a reatividade vascular de aorta de ratas. A pesquisa sobre consequências da intoxicação por metais pesados na saúde já é bem consolidada pelo professor Dalton Vassalo, orientador de Ingridy, que se dedica a este tema há 30 anos.
Porém, nos últimos anos, a importância deste conhecimento se tornou ainda mais importante. O Rio Doce foi contaminado com dejetos de mineração e os peixes foram contaminados por mercúrio, aumentando o risco da intoxicação humana. Em maio do ano passado, uma pesquisa da Universidade Federal do Oeste do Pará, publicizada pelo portal InfoAmazônia, demonstrou que a população ribeirinha apresentava níveis de mercúrio no sangue acima do limite determinado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que é 10 μg/L.
Hoje no doutorado, a pesquisadora já publicou
sete artigos científicos em parceria com o grupo de pesquisa sobre as alterações cardiovasculares provocadas por metais pesados, especialmente o mercúrio e seus trabalhos já receberam menções honrosas na Reunião Anual da Federação das Sociedades de Biologia Experimental, em 2018 e no Symposium on Cardiovascular Control under Healthy and Diseased States, realizado na Universidade de Vila Velha em 2019.
O apoio da família e a busca por oportunidades também fazem parte da trajetória de Mônica Goldner. Também formada em Enfermagem, Mônica cursou a graduação como bolsista em uma faculdade particular de Vila Velha. Nascida e criada na zona rural de Colatina, gostava de trabalhar na roça com pais, mas sempre teve o sonho de fazer curso superior e a família apoiava sua dedicação aos estudos.
Mônica se apaixonou pelo curso de Enfermagem e foi em busca de aproveitar todas as oportunidades, atuando como líder de turma, monitoria e projetos de extensão universitária. A dedicação de Mônica chamou a atenção de uma professora, que a indicou para acompanhar as atividades do grupo de pesquisa do professor Leonardo dos Santos, na UFES, sobre riscos cardiovasculares em situações de sobrecarga de ferro no organismo.
A associação entre a sobrecarga de ferro
e complicações cardiovasculares são estudadas pelo Núcleo de Pesquisas Translacionais na Sobrecarga de Ferro e Risco Cardiovascular, criado com apoio da FAPES em 2021. O Núcleo conta com a colaboração de outros professores do Programa de Pós-graduação em Ciências Fisiológicas da UFES, do HEMOES (Centro de Hemoterapia e Hematologia do Espírito Santo – SESA), e da Escola Paulista de Medicina da UNIFESP.
Um dos projetos de pesquisa deste grupo investiga
a relação entre indicadores da sobrecarga de ferro e o risco cardiovascular, além de traçar o perfil social de pacientes com doenças que levam a esta condição. Este projeto despertou o interesse de Mônica, que junto com outros colegas, foram capacitados para realizar a pesquisa como aluna de Iniciação Científica.
Apaixonada pela experiência, hoje Mônica está no processo seletivo para ingresso no mestrado pelo programa em pós-graduação em Ciências Fisiológicas e pretende seguir a carreira como pesquisadora.
A trajetória de duas pesquisadoras colatinenses é repleta de semelhanças e singularidades e suas pesquisas abrem caminho para outras pessoas. Estas histórias refletem a força do apoio familiar, da dedicação e da importância de oportunidades na carreira científica do Espírito Santo.