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Novas formas de organização de trabalho causam adoecimento mental, afirma psicóloga

por Equipe ACQF

“Não é normal adoecer pelo trabalho, não podemos naturalizar isso”. A afirmação é da professora Roberta Alves, do Departamento de Psicologia Social e do Desenvolvimento, que também destacou que as novas formas de organização do trabalho estão trazendo impactos negativos na saúde dos trabalhadores no mundo atual. Alves falou do tema Burnout e saúde mental na universidade no segundo encontro do Ciclo de debates: desafios das universidades realizado nesta quarta-feira, 10, no auditório Carlos Drummond de Andrade, na Biblioteca Central. O evento integra a programação de aniversário dos 69 anos da Ufes.

A psicóloga e professora ressaltou a centralidade do trabalho (que também entende o estudo como trabalho) na vida do ser humano, pois a atividade ocupa a maior parte do tempo diário da pessoa. “Pelo trabalho a pessoa expressa as suas potencialidades”, afirmou. Como novas configurações das relações de trabalho, ela apresentou a chamada “pejotização”, quando o trabalhador é contratado como pessoa jurídica, ou “uberização”, quando não há vínculo entre empregador e empregado, apenas obrigações. Já nas organizações onde há relação de emprego, segundo Alves, há competitividade, exigências de agilidade, produtividade e flexibilidade. Também é exigido do trabalhador disponibilidade, adaptabilidade, prevalecendo a cultura da excelência.

Tudo isso pode causar estresse sem controle. “O estresse torna-se patológico quando a pessoa não tem os recursos suficientes para dar conta de toda a demanda”, diz a professora. Ela apresentou dados da Previdência Social segundo os quais os transtornos mentais são a terceira maior causa de incapacidade para o trabalho no Brasil. Outro dado, da Organização Mundial da Saúde (OMS), revela que a depressão é a doença mais incapacitante do mundo atualmente.

Burnout

Uma das doenças que tem acometido os trabalhadores de forma progressiva é a síndrome de burnout, caracterizada por exaustão emocional e física, a despersonalização e a baixa realização profissional. Na sua apresentação, a professora fez referência a estudos realizados em diversas universidades públicas brasileiras que mostram que a síndrome está no dia a dia das instituições de ensino, seja adoecendo professores, técnicos ou estudantes.

“Se a gente quiser produzir saúde nas universidades, é necessário olhar para os processos de trabalho a partir de um conceito ampliado de saúde, incluindo determinantes sociais desse adoecimento. Compreender as manifestações de mal-estar como algo que está vinculado ao contexto de trabalho e não só à biografia do sujeito adoecido e às características individuais desse trabalhador”, afirmou.

Segundo Alves, a OMS recomenda o modelo de atenção integral à saúde mental primária, que parte de quatro frentes: promoção da saúde, que vai muito além de desenvolver habilidades pessoais, mas, principalmente, promover condições para que os trabalhadores desenvolvam suas atividades de maneira não nociva à saúde, revendo processos (se a carga está excessiva, se há relações conflituosas, por exemplo); prevenção de riscos no trabalho, que varia de acordo com a atividade; identificação precoce de processos de adoecimento; e acolhimento e reabilitação dos trabalhadores adoecidos. Essas estratégias devem focar, simultaneamente, nos trabalhadores e no ambiente de trabalho.

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