“Como reduzir os casos de hemorragia pós-parto?” O questionamento, feito pela médica anestesista-obstetra norueguesa Grethe Heitmann, deu origem a um projeto que visa capacitar profissionais de saúde de todo o mundo para o controle da hemorragia, principal causa de mortalidade materna pós-parto. A técnica já é adotada na Suécia, na Noruega e na Etiópia e, para as ações no Brasil, Heitmann escolheu o Espírito Santo, devido a um acordo de cooperação internacional entre a Ufes e a universidade norueguesa, o que possibilitou que o projeto tenha pioneirismo nacional no estado.
Até o dia 16 de junho, Heitmann vai visitar todos os hospitais e maternidades do estado e levar seu projeto, chamado Exac – External aortic compression (compressão aórtica externa), para treinar os profissionais que assistem o parto. Assim, médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e residentes de todo o Espírito Santo estão aprendendo uma técnica já implementada e estabelecida no Hospital de Ostfold, onde Heitmann atua na Noruega.
Inovação
A técnica utiliza um equipamento específico que simula a compressão externa da aorta em situações obstétricas e não-obstétricas. “É um trabalho árduo, de grande escala, que cria ramificações por meio de parcerias e que pode salvar muitas vidas, caso o uso da técnica seja acrescida com maior efetividade nos hospitais”, analisa a médica.
Segundo o coordenador do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPGSC/Ufes), Edson Theodoro dos Santos Neto, a técnica ainda é pouco conhecida no Brasil. “É uma prática inovadora que pode ser um diferencial importante, se implementada nos hospitais”, avalia ele, que está acompanhando Heitmann em todas as visitas.
Em julho de 2022, a médica norueguesa esteve no Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (Hucam-Ufes) para realizar uma exposição prática de divulgação do Exac. Desta vez, ela retornou ao estado para apresentar a técnica inovadora aos profissionais de saúde das maternidades capixabas. Na manhã desta terça-feira, 13, a equipe de Heitmann realizou o treinamento com os profissionais do Hospital Estadual Jayme Santos Neves, referência da rede estadual de saúde, localizado na Serra.
De acordo com Santos Neto, após o retorno de Heitmann para a Noruega, o PPGSC continuará executando o projeto, viajando por todos os hospitais e maternidades do estado e treinando os profissionais: “Nossa intenção é fazer várias capacitações das equipes multiprofissionais que assistem o parto para que daqui a um tempo nós tenhamos resultados bastante significativos”.
Estudo
Um estudo realizado no âmbito do PPGSC concluiu que, entre 2006 e 2015, foram notificados 334 óbitos maternos no Espírito Santo, dos quais 57,5% foram ocasionados por causas obstétricas diretas, como síndromes hemorrágicas na primeira ou na segunda metade da gestação, com destaque ao aborto.
A pesquisa identificou que há altas taxas de óbito materno no estado (principalmente entre mulheres jovens, solteiras, de cor parda e com baixa escolaridade), o que “demanda estudos para avaliar a qualidade da assistência obstétrica ofertada nos serviços de saúde”. Para Santos Neto, um dos autores do estudo, é importante acompanhar os indicadores dos hospitais após a intervenção da técnica Exac para avaliar se há redução da hemorragia materna e do uso de medicamentos de controle do quadro: “É um projeto que vai ter continuidade até o ano que vem”.