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Mais de 20% dos jovens apresentam Transtorno Alimentar

Estudo foi publicado por um grupo de pesquisadores do qual faz parte Arthur Eumann Mesas, professor de pós-graduação da UEL

por Equipe ACQF

Redação CGCOM/CAPES

Bolsista da CAPES em dois momentos de sua carreira e, hoje, professor e pesquisador pela Universidad de Castilla-La Mancha, na Espanha, além de professor-visitante do Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Arthur Eumann Mesas participou de um estudo que mostrou que mais de um quinto da população jovem, entre seis e 18 anos, apresenta algum tipo de Transtorno Alimentar (TA). O estudo “Proporção global de transtornos alimentares em crianças e adolescentes: Uma revisão sistemática e meta-análise”   foi publicado em fevereiro deste ano, no JAMA PEDIATRICS (Journal of the American Medical Association).

Conte-nos sobre a sua carreira e o trabalho que desenvolve.

Fiz a graduação em Odontologia, mestrado em Saúde Coletiva com bolsa CAPES, mestrado em Epidemiologia e doutorado em Medicina Preventiva e Saúde Pública. Em 2010, fui aprovado em concurso público para professor na UEL, e de 2012 a 2020 trabalhei nessa universidade como docente na graduação e no Programa de Pós-graduação (PPG) em Saúde Coletiva. Em 2017, fui beneficiado por outra bolsa CAPES, dessa vez, para um estágio de pós-doutorado, com um ano de duração na University of Wisconsin, nos Estados Unidos. Em 2020, me apresentei a um programa para atração de talentos do governo espanhol. Sou, desde então, professor de Nutrição no curso de Enfermagem e pesquisador na Universidad de Castilla-La Mancha, campus de Cuenca, Espanha, mantendo a colaboração como docente do PPG da UEL. Como pesquisador e epidemiologista, em minha trajetória científica predominam projetos e estudos sobre as relações entre aspectos do estilo de vida, como nutrição, sono e atividade física, com condições de saúde física e, principalmente, saúde mental, como depressão, burnout e transtornos alimentares.

Explique mais sobre o TA e como surgiu a iniciativa de fazê-lo.

Os TA são transtornos de saúde mental caracterizados por um comportamento persistente relacionado com o consumo de alimentos, e podem prejudicar a saúde física e psicológica de crianças e, principalmente, de adolescentes e adultos jovens. Segundo a 5ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), incluem-se nesse grupo a anorexia nervosa e a bulimia nervosa, os transtornos da compulsão alimentar, entre outros. Para cada transtorno, estão definidos na DSM-5 critérios específicos, como a frequência e a duração dos episódios do respectivo comportamento, necessários para um diagnóstico médico. Em nossa revisão sistemática, encontramos uma prevalência global de 22,4% de possíveis casos de TA a partir de evidências obtidas em 32 estudos realizados em 16 países, entre eles o Brasil. Todos esses estudos utilizaram o questionário SCOFF (do inglês Sick, Control, One, Fat, Food), uma ferramenta com cinco perguntas desenvolvida para a triagem de pessoas com possível TA, e não para seu diagnóstico. Nossa motivação principal para realizar esse estudo foi analisar o alcance dos TA entre crianças e adolescentes e ampliar o conhecimento sobre os potenciais fatores associados a eles, como o sexo, a idade e o excesso de peso. Para isso, juntamente com o pesquisador responsável, José Francisco López-Gil (Navarrabiomed, Espanha), e colaboradores de outras instituições, buscamos dimensionar a magnitude da prevalência dos TA no âmbito mundial e identificar os subgrupos populacionais particularmente vulneráveis a esses transtornos, aspectos de suma importância para o desenvolvimento de estratégias de prevenção e enfrentamento desse problema de saúde pública.

Que outros detalhes o estudo revelou?

A revisão evidenciou que, embora os TA estejam presentes em ambos os sexos, a prevalência desse transtorno é maior em meninas (30%) que em meninos (17%). Também encontramos que, na faixa etária entre 6 e 18 anos considerada no estudo, a prevalência de TA foi significativamente mais alta conforme a idade média dos participantes aumentava. Por último, observamos maior proporção de casos de TA nos estudos que incluíram crianças e adolescentes com maior média de índice de massa corporal, o que indica que esses transtornos estão associados com o excesso de peso corporal.

Qual a importância desse estudo?

O fato de que uma em cada cinco crianças e adolescentes tenha chance de apresentar um transtorno mental como o TA justifica a ampliação do debate sobre as suas possíveis causas e consequências físicas e psicossociais, além de sobre como prevenir e buscar ajuda especializada para tratar esse grave problema de saúde mental. Não existem estimativas precisas, mas há motivos suficientes para considerar que os TA são subdiagnosticados, como vergonha, medo ou falta de informação adequada. Por isso, é importante reforçar a necessidade de que pais, responsáveis, professores, demais profissionais da educação, além dos profissionais de saúde, mantenham-se constantemente atentos quanto à ocorrência e persistência de comportamentos incomuns relacionados com a alimentação, como ter preocupação excessiva com o peso e a imagem corporal, comer compulsivamente até se sentir desconfortável, comer sozinho ou escondido, fazer dietas com frequência, induzir vômitos ou tomar laxantes após as refeições, entre outros. A ocorrência eventual de algum desses comportamentos não necessariamente significa que a pessoa tenha um TA, mas se ele ocorre repetidamente e a criança ou adolescente tenta ocultá-lo, é importante informar ao pediatra ou médico responsável para que essa possibilidade seja investigada.

Qual a importância da CAPES na construção da sua carreira?

Considero que a bolsa CAPES concedida durante o mestrado na UEL foi decisiva para a minha escolha pela carreira acadêmica. A bolsa mensal me deu o suporte econômico necessário para que eu pudesse me dedicar integralmente às disciplinas da pós-graduação, à coleta de dados da minha pesquisa (sobre saúde bucal e condição nutricional em idosos da comunidade), e à redação de artigos e da dissertação. Como consequência dessa imersão no meio acadêmico e científico, e diante do exemplar acolhimento que tive dos meus orientadores, passei a considerar que, definitivamente, o que eu queria era ser professor e pesquisador em epidemiologia. Não tenho dúvidas de que o rendimento que tive no mestrado, o qual atribuo em parte à bolsa CAPES, ampliou minhas reflexões sobre perspectivas profissionais e, além disso, favoreceu que pudesse alcançar resultados positivos nos futuros processos seletivos e concursos no Brasil e no exterior.

A segunda bolsa CAPES foi concedida para um estágio de pós-doutorado nos Estados Unidos quando já era professor da UEL. Essa bolsa financiou as passagens, instalação, parte do seguro de assistência médica e a permanência naquele país. Além de poder praticar e aprimorar o inglês, a experiência de trabalhar em um centro de pesquisa de excelência no exterior foi e continua sendo fundamental para respaldar outras colaborações internacionais que, juntamente com outros docentes e alunos da UEL, foram estabelecidas e consolidadas ao longo dos últimos anos. Esses efeitos positivos continuam dando frutos em novas colaborações internacionais, agora que estou na Espanha.

A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC). (Brasília – Redação CGCOM/CAPES)

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