Monumentos públicos localizados em várias cidades do Espírito Santo estão virando miniaturas em 3D nas mãos de pesquisadores do Laboratório de Extensão e Pesquisa em Artes (Leena/Ufes). O Leena é braço do projeto de pesquisa Arte Pública Capixaba, que tem inventariado os monumentos localizados nos 78 municípios com o objetivo de ampliar a compreensão da população geral acerca dos marcos memoriais do estado.
Uma das ações do projeto é voltada a pessoas com deficiência visual: a miniaturização das obras de arte para proporcionar o conhecimento das peças por meio do tato. Além disso, o projeto capacita professores da educação básica na disseminação do saber sobre arte pública do Espírito Santo.
Marcos temporais
O projeto Arte Pública Capixaba surgiu em 2011 para fazer um levantamento dos monumentos existentes nos municípios do Espírito Santo, criando uma catalogação que permita traçar o percurso de cada escultura do estado. Segundo o professor do Departamento de Artes Visuais (DAV/Ufes) e coordenador do Leena José Cirilo, a importância da ação está no entendimento de que os monumentos são marcos temporais que demarcam, advertem e sinalizam o presente e a história para gerações futuras. “Na origem da ideia, os monumentos são mais que memoriais ou comemorativos, pois eles também nos lembram do que não podemos esquecer”, avalia.
Dezesseis obras já foram miniaturizadas (foto principal): Maurício de Oliveira, cruz do Papa, monumento aos imigrantes italianos, dona Dominga, Homero Massena, índio Arariboia, Iemanjá, Egídio Coser e monumento universitário (Ufes), de Vitória; padre Alonso e soldado Aldormario, de Baixo Guandú; Tigrão, de Guarapari; Francisco Lacerda, de Marilândia; índio Botocudo, de Linhares; Cristo, de Guaçuí; e Yahoo, da Serra. Neste momento, as atividades do projeto estão focadas nas obras localizadas na região centro-oeste do estado.
Miniaturização
Em 2017, a equipe do Leena passou a se questionar sobre maneiras de agregar estudantes e pesquisadores com baixa ou nenhuma visão às ações desenvolvidas pelo projeto. Desta problematização nasceu a ideia de transformar as esculturas capixabas em miniaturas por meio da tecnologia 3D (foto abaixo, à direita), permitindo que as obras sejam percebidas pelo sentido do tato, associado à audiodescrição ou à descrição em braille.
Após a definição dos monumentos que serão miniaturizados, a obra passa pela fotogrametria, ação que permite a captura das imagens de todos os ângulos da escultura. Em um segundo momento, as peças são encaminhadas para programas de modelagem 3D e passam por um processo de escultura digital antes de serem levadas para a impressora. Toda a ação pode levar de algumas horas a alguns dias, a depender do tamanho que o monumento terá após ser miniaturizado.
Impacto
O desdobramento dessa iniciativa foi a criação do chamado kit paradidático, um conjunto de materiais de apoio a professores de Artes na educação básica que pretende ajudar no trabalho cotidiano em sala de aula, articulando a prática docente com aspectos memoriais e culturais das cidades. Ao longo deste ano, a equipe do Leena vem desenvolvendo o kit inicial, que já abarca a ação inclusiva, e, neste mês de outubro, dará início à aplicabilidade e à testagem das miniaturas na região centro-oeste do estado.
Cirilo ressalta que o foco dos trabalhos, agora, é no papel multiplicador do professor da educação básica: “Nos interessa muito o impacto social do projeto, daí o foco no processo educacional e na capacitação de professores. São eles que vão lidar no dia a dia com essas questões. A partir deles, vamos acionar o funcionamento da metodologia com os diferentes beneficiários dela”.
Repositório
Outra etapa do projeto consiste na produção de reflexões teóricas, conceitos e amarrações históricas por meio de artigos, trabalhos científicos e eventos, buscando analisar a inserção paisagística, social, cultural, política e econômica dos monumentos capixabas. Todo esse material bibliográfico está à disposição do público no Repositório da Arte Pública Capixaba, site do projeto no qual é compartilhada a produção dos pesquisadores.
O Leena é vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Artes (PPGA/Ufes) e os trabalhos desenvolvidos pela equipe do projeto são financiados pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Espírito Santo (Fapes).
Texto e fotos: Adriana Damasceno / Ufes
Edição: Leandro Reis