Texto: Sueli de Freitas
O artigo Modelagem da Dinâmica de Uso e Cobertura do Solo e sua Projeção Futura para o Bioma Amazônia, publicado na última semana na revista científica Forests, revela a redução da formação florestal na Amazônia e o aumento da área de pastagem. Fruto da tese de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais da Ufes defendida pela doutora Kaíse Barbosa de Souza, sob orientação do professor Alexandre Rosa dos Santos, o artigo traz dados da cobertura das terras da região nos anos de 1985, 2014 e 2017, e projeções de aumento das áreas de pastagem em detrimento das florestas para 2044.
O objetivo da pesquisa foi analisar a dinâmica de uso e cobertura da terra ao longo do tempo por meio da modelagem espacial e projetar cenários futuros. A área de estudo pertence à porção brasileira da Amazônia, com extensão de 4.196.943 km², abrangendo nove estados: Amazonas, Pará, Mato Grosso, Acre, Rondônia, Roraima, Amapá, parte do Tocantins e parte do Maranhão.
No trabalho foram utilizados os dados do Projeto MapBiomas – Coleção 3.0 da Série Anual de Mapas de Cobertura e Uso da Terra do Brasil. Todos os mapas são produzidos por meio de imagens de satélite. Os resultados mostraram que a formação florestal ocupa historicamente uma maior extensão territorial. No entanto, ao longo dos anos, sua área foi reduzida devido à atividade humana, pois há substituição das florestas por práticas agrícolas, representadas principalmente pelo aumento das áreas de pastagens.
Histórico
Em 1985, a formação florestal ocupava uma área de 3.844.800,75 quilômetros quadrados (91,20%); em 2014, houve redução para 3.452.129,25 quilômetros quadrados (81,89%); em 2017, houve um aumento de apenas 0,72%, representando uma área florestal total de 3.482.721,50 quilômetros quadrados (82,61%).
No que se refere às pastagens, essas ocupavam inicialmente uma área de 71.046,50 quilômetros quadrados (1,69%) e, em 2014, houve um aumento expressivo para 437.670,00 quilômetros quadrados (10,38%) e, em 2017, uma leve redução para 375.159,50 quilômetros quadrados (8,90%).
Na figura, o uso e cobertura da terra nos anos de 1985 (a) e 2017 (b), e a projeção para 2044 (c). As área amarelas representam as pastagens.
“O principal determinante do desmatamento no bioma amazônico é o aumento das áreas de pastagem”, afirma o professor Alexandre Rosa. Segundo ele, a projeção para 2044 é de mais área de pastagem e menos de floresta, se nada for feito. “A metodologia serve de base para o planejamento da ocupação territorial, inclusive podendo ser adaptada para outros biomas”, pondera Rosa.
“Ao analisar os três cenários (passado, presente e futuro), visualmente pode-se observar que há uma redução substancial na classe formação florestal e um aumento significativo nas áreas de pastagens [para 2044]. É importante notar que essas mudanças só podem ocorrer se o comportamento observado de 1985 a 2014 continuar em condições semelhantes às representadas neste estudo”, afirmam os pesquisadores.
Eles lembram, ainda, da importância da Amazônia. “É a maior floresta tropical do mundo, representando 35% da área total de floresta primária. Destaca-se não só por sua grande biodiversidade, mas também influencia os climas regionais e globais”, destacam.