Pesquisadores da USP e da Embrapa testaram um novo método para quantificar mercúrio, metal que pode causar danos graves a ecossistemas e à saúde humana, em amostras ambientais. O artigo com os resultados foi coordenado por Paulino Ribeiro Villas-Boas, pesquisador da Embrapa Instrumentação, e publicado no Journal of Analytical Atomic Spectrometry.

Paulino Ribeiro Villas-Boas – Foto: Reprodução/UFScar
Pela primeira vez, os mesmos parâmetros de calibração obtidos com uma amostra puderam ser aplicados a um outro tipo de amostra. Os cientistas desenvolveram um novo modelo de ajuste para a espectroscopia de emissão de plasma induzida por laser (Libs), instrumento capaz de quantificar rapidamente elementos químicos com pouca ou nenhuma preparação no material investigado. “Normalmente essa técnica permite medir praticamente todos os elementos da tabela periódica, mas é bem mais difícil para alguns elementos mais pesados como o mercúrio”, explica Villas-Boas ao Jornal da USP.

Com o novo modelo, o Libs (laser-induced breakdown spectroscopy, ou espectroscopia de plasma induzido por laser) pode ser usado para medir a concentração de elementos químicos de difícil detecção e propriedades do solo, como pH, a concentração de carbono e a textura – Foto: Paulino Ribeiro Villas-Boas.
A contaminação por mercúrio é um problema grave, especialmente em regiões com atividade garimpeira, como a Amazônia brasileira, onde levantamentos recentes revelaram altos níveis de contaminação em peixes consumidos pela população. O mercúrio é uma substância altamente tóxica que pode causar danos ao cérebro, ao coração e ao sistema imunológico.
O objetivo inicial da pesquisa era quantificar contaminantes em amostras de solos e chorume de aterros sanitários, visando interesses agroambientais. No entanto, o método é versátil e poderá ser testado também em peixes e outros produtos alimentícios. “Pode ser uma amostra líquida, sólida ou gasosa, embora a experiência que temos seja o trabalho com sólidos”, conta Carlos Renato Menegatti, professor da Escola de Engenharia de Lorena (EEL) da USP, que contribuiu com a estrutura ótica e com o desenvolvimento dos modelos.
A quantificação precisa do mercúrio em diferentes contextos pode ajudar a implementar medidas de controle mais eficazes e proteger a qualidade dos solos, plantas e ecossistemas agrícolas. Na temperatura ambiente, o mercúrio é líquido e, por isso, era usado nos termômetros antigos.
Medir a contaminação por esse metal onde a concentração dele é baixa é um desafio. Atualmente, a detecção é comumente feita por meio da quebra da amostra com ácidos produzindo uma solução que é nebulizada em uma chama de argônio. O material então emite uma luz que é captada por um espectrômetro identificando os elementos químicos presentes. Essa técnica, porém, pode levar dias, é mais custosa e gera resíduos que precisam ser descartados.