O relatório “A Urgência do Agora”, cujo link para download está em “Serviço” no final desta matéria, foi lançado na Conferência Internacional de Aids, realizada na última semana em Munique, na Alemanha. O documento afirma que das 39,9 milhões de pessoas vivendo com HIV/Aids, 9,3 milhões, não estão recebendo o tratamento.
A coordenadora de projetos da ONG Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids, Abia, Susana Von Der Ploegh, participa do evento internacional e aponta que existem diferenças “gigantescas” entre os preços pagos pelos países por medicamentos essenciais.
“Nesse primeiro dia de conferência o que eu posso colocar é que a gente vê muitos discursos sobre colocar as pessoas em primeiro lugar, mas muitas vezes esse se torna um discurso vazio e, porque não dizer, hipócrita, quando a gente vê a desigualdade estrutural que há nesse mundo em termos de acesso a medicamentos, estigma e informação. Enquanto ativista por acesso a medicamentos eu sinto falta nessa conferência de trabalhos e questões que envolvam a barreira do próprio sistema global de patentes”, afirma.
Necessidade de tratamento vitalício
Susana, que é coordenadora da coalizão de organizações brasileiras chamada Grupo de Trabalho de Propriedade Intelectual, GTPI, citou o medicamento Dolutegravir, usado por 600 mil brasileiros. Segundo ela, esse é um exemplo onde o preço pago no Brasil por mês equivale ao valor pago por ano em outros países, como resultado das barreiras patentárias.
A diretora executiva da Unaids, Winnie Byanyima, pediu que “os recursos necessários e que os direitos humanos de todas as pessoas sejam protegidos”. Dados do relatório indicam que, caso as políticas adequadas sejam adotadas, o número de pessoas vivendo com HIV/Aids que necessitarão de tratamento vitalício será de cerca de 29 milhões até 2050.
No entanto, caso seja tomado o caminho errado, o número de pessoas que precisarão de suporte por toda a vida aumentará para 46 milhões. O estudo do Unaids mostra um progresso contínuo e lento na distribuição de medicamentos para pessoas vivendo com HIV/Aids, com 30,7 milhões atualmente em tratamento.
Prevalência no Brasil
No Brasil a alta prevalência foi relatada entre afrodescendentes e populações indígenas, especialmente mulheres negras, que têm prevalência duas vezes mais alta do que na população feminina em geral.
Para diretora e representante do Unaids no Brasil, Claudia Velasquez, “o enfraquecimento da solidariedade entre e dentro dos países está colocando o progresso em perigo”.
Por outro lado, o relatório aponta que o Ministério da Saúde do Brasil fez experiências com uma máquina modelo de aprendizagem para prever quais pessoas tinham maior probabilidade de perder o acompanhamento nos serviços públicos.
Usando dados comportamentais e sociodemográficos coletados no país desde 2014, o modelo sinalizou com sucesso as pessoas em maior risco de abandono, permitindo assim a elaboração de intervenções precoces e personalizadas.
O relatório demonstra que os serviços de prevenção e tratamento do HIV/Aids só alcançarão as pessoas se os direitos humanos forem respeitados, se leis injustas contra mulheres e contra comunidades marginalizadas forem abolidas e se a discriminação e a violência forem abordadas.
Angola e Moçambique
Angola e Moçambique estão entre os países com maior número de pessoas vivendo com HIV/Aids sem acesso a tratamento na África Subsaariana. As duas nações lusófonas também estão entre os seis países com maior incumprimento da demanda por terapia antirretroviral para crianças.
O relatório afirma ainda que o conflito no norte de Moçambique, causou uma “queda acentuada” no número de pessoas que recebem tratamento.
Os cálculos da Unaids mostram que, embora 20% dos recursos para o HIV/Aids devam ser dedicados à prevenção para as populações mais afetadas, apenas 2,6% do total de gastos foi destinado a intervenções para populações-chave em 2023.
Serviço:
Faça o download da íntegra do relatório da Unaids “A Urgência do Agora”, em PDF e no idioma inglês, clicando neste link.